16.5.06
Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)
Assim como o nosso espírito se fortifica pela convivência com espíritos rigorosos e sensatos, nem se pode dizer quanto se empobrece e degenera pelo contínuo comércio e frequência que temos com espíritos baixos e doentios. Não há peste que se espalhe tanto como essa. Sei por não pequena experiência o preço por que fica. Gosto de discutir e discorrer, mas é com pouca gente e para meu proveito. Porque servir de espectáculo aos grandes e fazer ao desafio exposição do espírito e de palavreado, acho que é ofício que não fica bem a um homem honesto.
Montaigne, Da Arte de Discutir (trad. Agostinho da Silva, Imprensa da Universidade de Coimbra, 1933)
A indústria do disco contra o consumidor
Desde que a gravação e reprodução de som digital se vulgarizou e os lucros das grandes editoras discográficas mundiais começaram a descer dos picos astrais a que haviam subido durante as décadas de 1960 a 1980, instalou-se a paranóia. Primeiro, possivelmente entre os accionistas. Depois, numa vertigem espiralada, desceu-se ainda mais fundo com as ameaças de processos judiciais e a perseguição às redes peer to peer. Até se chegar à guerra aberta contra os consumidores, transformados no inimigo a abater.
No ano passado, a Sony/BMG, a pretexto de impedir as cópias não autorizadas de música, instalou nos CDs que distribui um programa que, não fazendo apenas isso, também transforma os computadores dos incautos numa desprotegida arena, aberta a toda a sorte de infecções e parasitas logiciais. Tal comportamento, que a editora alega agora ter sido «fortuito», é manifestamente ilegal, como de resto ficou claramente provado, apesar das previsíveis manobras para impedir que tal processo chegasse a tribunal nos EUA.
Esta história foi agora tema de um excelente e detalhado artigo de Wade Roush na Technology Review, cuja publicação, em 3 partes, só estará completa na próxima quinta-feira, sempre neste sítio.
15.5.06
Tiros com silenciador
O director-adjunto de informação da SIC, acicatado pelos rumores em torno do novo livro de Manuel Maria Carrilho, decidiu começar a atacar a obra com todo o fogo de artilharia da «sua» SIC-Notícias na noite de quarta-feira passada, pelo menos um dia antes de o dito livro ser apresentado publicamente e lhe chegar então às mãos. O que, se constitui um procedimento nada defensável numa pessoa normalmente sensata, é acção digna de procedimento severo quando levada a cabo por um jornalista no exercício da sua profissão - é recente o exemplo do crítico de teatro do New York Times que foi imediatamente despedido após o jornal ter publicado a sua crónica sobre uma peça de teatro que... fora cancelada à última hora.
Coisas dessas, porém, só acontecem ainda noutros países. No nosso alegre jardim, os (maus) exemplos vêm de cima: e é assim que o director-adjunto, longe de assumir os erros próprios, ainda hoje vem assinar uma «crónica», publicada no sítio internet da estação que o emprega, a qual se inicia, singelamente, com a frase «Já se disse quase tudo sobre o livro de Manuel Maria Carrilho».
É claro que a frase não foi escrita com propósitos de boa fé, ou de adequação à realidade, pois qualquer pessoa sã é capaz de discernir que, três dias após o lançamento de um livro, tudo está ainda por dizer sobre ele; e, no caso presente, que há ainda muitas ilações a extrair.
Trata-se, pois, de um tiro com silenciador, de uma jogada de ocultismo inquisitorial, de uma tentativa desajeitada de esconder o óbvio; atitude tanto mais bizarra quando vinda de alguém que deveria respeitar o, e mesmo pugnar pelo respeito do, Código Deontológico da profissão que exerce. Código esse, aliás, que sempre foi taxativo na sua exigência de Rigor, Honestidade e Isenção, tal como os bons costumes e a civilidade sempre exigiram que se pensasse minimamente antes de se emitir qualquer opinião.
O texto de Arthur Schopenhauer que recentemente traduzi para português - «A Arte de Ter Sempre Razão» (editado esta semana pela Frenesi) - surge-me assim mais actual do que antes, bem como as máximas do sábio alemão, desta vez aplicadas a um reino televisivo cujos pés de barro se desfazem à vista de todos.
Dizia ele que «As gentes comuns têm um profundo respeito pelos especialistas de todo o género. Ignoram que a razão pela qual se faz profissão de uma coisa não é o amor dessa coisa mas do que se lucra com ela - e que quem ensina alguma coisa raramente a conhece a fundo; pois se a estudasse como deveria, em geral não lhe restaria tempo para ensiná-la». E, passado um século e meio, os factos continuam a dar-lhe razão.
Logo que possível voltarei aos livros: o de Manuel Maria Carrilho, e o de Schopenhauer.
Inteligência eléctrica - o antídoto
Um grupo de investigadores japoneses anunciou hoje uma nova tecnologia de electrólise que neutraliza o vírus H5N1 em suspensão no ar.
Sei Miguel ao vivo
Para alguns de nós, a Lisboa dos últimos 25 anos também foi muito marcada pelos concertos de Sei Miguel: únicos e irrepetíveis, luminosos mesmo quando parecem obscuros (e os primeiros eram à luz de velas...), obedecem a um calendário cuja primeira regra parece ser a da imprevisibilidade. Por isso, são de anotar as datas próximas: dias 16 (amanhã!!) e 23 no bar Left, junto ao largo de Santos; e dia 19 na ZDB. Ah, também já existe um sítio oficial na internet sobre o nosso herói do trompete de bolso.
Da música como acto de descarga
O International Herald Tribune fala hoje de Aziz Ridouan, um adolescente francês que se tornou um dos principais interlocutores do seu governo, no debate em curso sobre a legislação para a descarga de música a partir da Internet. As associações de consumidores apoiam-no, e o ministro do Interior, Sarkozy, concedeu-lhe uma autorização escolar especial que o isenta de faltas, permitindo-lhe assim deslocar-se a Paris sempre que necessário para participar em debates ou consultas governamentais. As actividades do jovem Ridouan podem ser acompanhadas através do blog do movimento que ele lidera - os Audionautes.
14.5.06
Inteligência eléctrica
Como poderão as tecnologias da informação contribuir para uma gestão mais racionalizada dos consumos de energia eléctrica? Por duas vias: aplicando-as ao sistema de distribuição, e aplicando-as ao sistema de consumo. Se a primeira exige a competência dos governos, já a segunda pode ser alcançada pela sedução dos consumidores, conhecendo-se a cupidez destes por cada novo apetrecho electrónico. E é muito claro que o sistema que possa racionalizar em tempo de paz, poderá racionar em tempo de necessidade. Nos EUA, o programa governamental em curso chama-se GridWise e é uma ideia à qual convém estar atento.
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