13.7.06

Hakim Bey: Boicotai a Cultura Chui


«(...) Propomos uma exegese hermenêutica esotérica da palavra de ordem surrealista «Mort aux vaches!». Cremos que ela se refere não às mortes de chuis individuais («vacas», no calão desse período) – mera fantasia esquerdista de vingança – mesquinha reacção sadista – mas antes à morte da image do flic, do controlo íntimo e das suas miríades de reflexos no Lugar Sem Lugar dos media – o «quarto cinzento», como lhe chama Burroughs. A auto-censura, o temor dos seus próprios desejos, a «consciência» como voz interiorizada da autoridade-consenso. Assassinar estas «forças de segurança» equivaleria deveras à libertação de dilúvios de energia libidinal, mas não ao violento amok previsto na teoria da Lei e da Ordem. A «ultrapassagem» nitzscheana fornece princípios de organização ao espírito livre (bem como à sociedade anarquista, pelo menos em teoria). Na personalidade do estado policiário, a energia libidinal é retida e depois canalizada para a auto-repressão; qualquer ameaça ao Controlo resulta em espasmos de violência. Na personalidade de livre espírito, a energia flui sem peias, e por conseguinte de forma turbulenta mas gentil – o seu caos encontra o seu atractor estranho, permitindo o surgimento de novas ordens espontâneas.

Neste sentido, portanto, apelamos a um boicote à imagem do Chui e a uma moratória sobre a sua produção em arte. Neste sentido...

MORT AUX VACHES!»


in Zona Autónoma Temporária: Lisboa, trad. Jorge P. Pires, Frenesi, 2000

A Inteligência Artificial tem 50 anos



Em Julho de 1956, correspondendo a um convite de John McCarthy, professor do departamento de Matemática do Dartmouth College, em Hanover (New Hampshire, EUA), diversos investigadores reuniram-se naquela escola num seminário de investigação em «Inteligência Artificial» - termo inventado pelo próprio McCarthy.

Esta semana, em comemoração do meio século de vida desta noção que se tornou cada vez mais actual, o Dartmouth College acolhe uma reedição do evento - tendo agora por tema «Os Próximos 50 anos da IA».

Estará certamente em destaque a presença dos quatro sobreviventes do grupo original, entre os quais John McCarthy e Marvin Minsky (na foto), que é hoje entrevistado na Technology Review.

A entrevista é significativa sob vários aspectos. Por exemplo, Minsky aponta vários defeitos no modo como a IA evoluiu e sublinha o actual défice de investigação em torno da noção de Senso Comum. Além disso, levanta o véu sobre o seu próximo livro - The Emotion Machine: Commonsense Thinking, Artificial Intelligence, and the Future of the Human Mind, que será publicado em Novembro pela Simon & Schuster.

Uma primeira versão do livro estava já disponível na Internet, a partir da página pessoal de Marvin Minsky no MIT, na qual, aliás, se encontrarão diversos outros textos do autor, que servem de agradável alternativa à crónica que EPC hoje assina no Público.

11.7.06

Syd Barrett 1946-2006












Faleceu hoje o fundador dos Pink Floyd, que deixara de tocar com a banda em 1968.

Uma reportagem de Tim Willis publicada em 2002 no The Observer explica muito bem porquê. Também é possível consultar o sítio dos fãs dos Pink Floyd, ou o dos fãs de Syd Barrett.

Inteligência eléctrica - 3





O governo escocês apresentou ontem um plano radical: de futuro, todos os novos empreendimentos imobiliários terão obrigatoriamente de estar aptos a produzir electricidade. O The Scotsman chama a esta iniciativa a Revolução Verde.


Ver também: Inteligência eléctrica - 2

Votos filosóficos







Segundo uma notícia da LUSA, que vi reproduzida no Diário Digital, um dos principais votos de José Saramago para este milénio é o de que «todos nos transformemos em filósofos, porque filosofar significa pensar, reflectir e duvidar - palavras que talvez pertençam à categoria das caducas, daquelas que já não se usam». Ou antes pelo contrário. Não seria mau.

9.7.06

15 minutos com Manuel De Landa

Já tinha ouvido falar do mexicano/novaiorquino Manuel De Landa quando o vi em público pela primeira vez, em Maio de 2000, em Berlim, durante as conferências Monomedia - um encontro internacional em que se discutiram diversos desafios culturais suscitados pelos novos media, com participantes tão pertinentes como Michael Goldhaber (EUA), Bert Mulder (Hol), Richard Barbrook (GB) e o ultradiscreto, mas sempre inconfundível, Brian Eno.

De Landa, um reconhecido deleuziano, destacou-se pela ferocidade e magnetismo da sua intervenção, abandonando a cadeira, deambulando de um lado para o outro no palco enquanto procurava satisfazer o tópico em análise - a «Mudança de Valores».

Foi depois disso que comecei a lê-lo, pela ordem em que publicara os seus livros: War in the Age of Intelligent Machines (1991), A Thousand Years of Non-Linear History (1997), e Intensive Science and Virtual Philosophy (2002). Falta-me o tempo, e os meios, para aceder aos seus filmes experimentais dos anos 70.

Em 28 de Setembro de 2002, De Landa esteve presente num outro colóquio, intitulado «Sob Vigilância», que foi realizado na Biblioteca Municipal de Oeiras, creio que por iniciativa (ou influência) de António Saraiva-Bakali. Foi aí que recolhi estas imagens de um autor afinal mais sereno do que eu o imaginara, mas não menos significativo; e que se mostrou bastante afável, durante o posterior convívio social propiciado pelo evento.

Creio que algumas das observações que ele tece neste breve excerto - designadamente as que se referem à actual substituição do Direito pelo Código - ganham bastante com a leitura das obras de Lawrence Lessig . Como complemento ao video, sugiro ainda a leitura desta entrevista com Manuel De Landa, desta outra entrevista, ou deste breve perfil.