22.6.06

Em busca do robô desconhecido










A Microsoft apresentou esta semana o seu novo Robotics Studio, que já está disponível para descarga. Começam a perceber-se as novas orientações estratégicas da empresa de Bill Gates para os próximos anos.

20.6.06

Chegou o comentador de futebol robótico!





A Technology Review publicou hoje um interessantíssimo artigo sobre uma das mais recentes aventuras no campo da robótica - já não o robô que sabe jogar futebol (para isso até já há um campeonato próprio), mas o robô bípede e poliglota, dotado de percepção tridimensional, capaz de reconhecer rostos e cores, e, o que é mais, habilitado a comentar uma partida enquanto ela decorre.

A bem dizer, não se trata apenas de um robô, mas de dois, chamados Ami e Sango, que foram apresentados publicamente na semana passada, em Bremen, durante a Robo Cup 2006 e conseguem até coordenar as suas acções ao longo do jogo. Foram construídos pela Sony e programados por uma equipa de cientistas computacionais da Carnegie Mellon University, em Pittsburgh.

Embora o artigo seja omisso neste ponto, é mais que provável que Ami e Sango saibam falar português - ou não fosse a equipa da Carnegie Mellon liderada pela Professora Manuela Veloso, cuja carreira docente se iniciou aqui em Lisboa, no Instituto Superior Técnico.

Ah, quanto aos resultados finais da Robo Cup 2006, talvez seja interessante notar que duas equipas portuguesas se destacaram: a FC Portugal conquistou o primeiro lugar na categoria de Simulação Tridimensional; e a 5dpo ficou em segundo na categoria de robôs de pequena dimensão. Se os humanos se portarem como os robôs, temos taça...

O melhor romance (americano) dos últimos 25 anos



«Beloved», de Toni Morrison (na foto), foi eleito como o melhor romance norte-americano dos últimos 25 anos, por votação de cerca de duzentos escritores, críticos e editores, que foram arregimentados para tal tarefa no início deste ano pelo editor da secção de Livros do New York Times, Sam Tanenhaus.

Os resultados da votação são curiosos a vários títulos (entre eles o de permitir decifrar qual é o actual cânone da literatura made in USA), e guardam diversas surpresas. Por exemplo: Philip Roth é o autor com mais livros citados, na qualidade de pretendentes ao título. O qual, no entanto, agora já tem dona...

19.6.06

Mapeando Bono!!






Recorrendo ao sistema de câmaras de vigilância da cidade de Dublin, e sabendo de antemão que uma das grandes atracções que a capital irlandesa oferece aos seus visitantes é a possibilidade de se cruzarem na rua com o vocalista dos U2, um grupo de mentes bem humoradas criou o Bono Probability Positioning System version 2 - também conhecido como Google Bono.

Agora, todos nós podemos avaliar as probabilidades de encontrar o cantor, antes mesmo de entrarmos para o avião...

Macacos dançantes






Um video amador de baixa resolução, feito apenas com imagens recolhidas na internet, pode exprimir uma mensagem pertinente sobre a nossa civilização? Pode. Para conferir, é vê-lo aqui.

Ah, e tem legendas em português...

O Maoísmo Digital






Jaron Lanier publicou há três semanas atrás, na revista Edge, um interessante artigo sobre as inevitáveis limitações do colectivismo digital - como no caso da Wikipedia - e as aberrações a que ele conduz. Vale a pena ler, aqui. E depois meditar e debater.

18.6.06

Fábula


Tem a mentida Fortuna muitos queixosos e nenhum agradecido. Chega este descontentamento até às bestas, mas a quem melhor? O mais queixoso de todas é o mais simples. Ia-se este queixando de corrilho em corrilho, e achava não só compaixão, mas aplauso, especialmente no vulgo.

Um dia, pois, aconselhado de muitos e acompanhado de nenhum, dizem que se apresentou na audiência geral do soberano Júpiter. Aqui, profundamente humilde (que o é de agradecer a um néscio), e outorgada a inestimável licença de ser escutado, pronunciou mal esta pior traçada arenga:

«Integérrimo Júpiter, que justiceiro e não vingador te desejo: Aqui tens ante tua majestosa presença, o mais infeliz, sobre ignorante, dos brutos, solicitando não tanto a vingança de meus agravos quanto o remédio de minhas desditas. Como passa, oh Númen eterno!, tua inteireza pela impiedade da Fortuna, só para mim cega, tirana e até madrasta, já que pela natureza me fez o mais simples dos animais, que é dizer quanto se pode? Por quê há-de esta cruel, a tanta carga, ajuntar a sobrecarga de desditado, violando o uso e atropelando o costume? Me faz ser néscio e viver descontente. Persegue a inocência e favorece a malícia: o soberbo Leão triunfa; o Tigre cruel vive; a Raposa, que a todos engana, de todos se ri; o voraz Lobo passa. Eu só, que a ninguém faço mal, de todos o recebo. Como pouco, trabalho muito; nada do pão, tudo do pau. Traz-me desalinhado, e eu, que me sou feio, não posso aparecer entre gentes, e sirvo de acarrear vilões, que é o que mais sinto.»

Comoveu grandemente esta lastimosa proclamação a todos os circunstantes. Só Júpiter severo, que não se imuta assim vulgarmente, alargou a mão sobre que havia estado, não tanto recostado, quanto reservando para a outra parte aquele ouvido: fez ademane que chamassem para dar seu descargo à Fortuna.

Partiram em busca dela muitos soldados, estudantes e pretendentes; advieram por muitas partes e em nenhuma a achavam. Perguntavam a uns e a outros, e nenhum sabia dar razão. Entraram na casa do poderoso Mando, e era tanta a confusão e a pressa com que todos, sem discorrer, se moviam, que não acharam quem lhes respondesse, nem até os escutasse, ainda que toparam com muitos. Discorreram eles que sem dúvida não devia de estar entre tanto desassossego, e não se enganaram. Passaram à casa da Riqueza, e aqui lhes disse o Cuidado que havia estado, mas mui de passagem, não mais senão para encomendar alguns molhos de espinhos e uns taleigões de sovelas. Entraram na quinta da Formosura, que está mui próxima do sexto, para pagá-lo pelas setenas; toparam com a Necedade, e, sem perguntar mais, passaram à da Sabedoria; respondeu-lhes a Pobreza que tão pouco estava ali, porém que de dia a dia a aguardavam.

Só lhes restava já outra casa, que estava sozinha à direita aceira. Chamaram, por estar mui cerrada, e saiu a responder-lhes uma tão formosa donzela, que creram ser alguma das Três Graças, e assim, lhe perguntaram qual era. Respondeu com notável agrado que era a Virtude. Nisto, saía já de lá dentro, e do mais interior, a Fortuna, mui risonha. Intimaram-lhe o mandato e obedeceu ela como sucede, voando às cegas.

Chegou mui reverente ao sacro trono, e todos os do cortejo lhe fizeram muitas cortesias, e até salemas, por recambiá-las. «Que é isto, ó Fortuna! – disse Júpiter – que cada dia hão-de subir a mim as queixas de teu proceder? Bem vejo quão dificultoso é o assunto de contentar, quanto mais a muitos, e a todos impossível. Também me consta que aos mais lhes vais mal porque lhes vais bem, e em lugar de agradecerem o muito que lhes sobra, se queixam de qualquer pouco que lhes falte. É abuso entre os homens nunca pôr os olhos no saco das desditas dos outros, senão no das felicidades, e ao contrário em si mesmos; miram o luzimento do ouro de uma coroa, mas não o peso ou o pesar. Por tanto, eu nunca faço caso de suas queixas, até agora; que as deste, de todas as maneiras infeliz, trazem alguma aparência.»

Mirou-o a Fortuna de revés; ia a sorrir-se, mas, advertindo aonde estava, mediu-se, e, mui recomposta, disse: «Supremo Júpiter, uma palavra só quero que seja meu descargo, e seja esta: se ele é um asno, de quem se queixa?» Foi mui rida por todos a resposta, e pelo próprio Jove aplaudida, e em confirmação dela e ensinança do néscio acusador, mais que consolo, lhe disse:

«Infeliz bruto, nunca vós fôreis tão desgraçado se fôreis mais avisado. Andai e procurai ser de hoje em diante desperto como o Leão, prudente como o Elefante, astuto como a Raposa e cauto como o Lobo. Disponde bem dos meios, e conseguireis vossos intentos; e desenganem-se todos os mortais – disse, alçando a voz – que não há mais dita nem mais desdita que prudência ou imprudência!»


(Capítulo XXIII de «O Discreto», de Baltazar Gracián (1646), em tradução, prólogo e notas de Jorge P. Pires, ed. Frenesi, Lisboa, 2005)

Breve adenda à carta aberta ao DN

Não tenho por hábito corresponder-me com quem não se assina.

De qualquer modo - e para evitar a maçada de ter de voltar a rejeitar «comentários anónimos» - esclareço que o meu «Um Futuro Maior» não foi recenseado no jornal de que eu era então colaborador (o Expresso) senão no ano seguinte à sua publicação.

Adianto até que a recensão foi assinada pelo já falecido Rui Rocha e, apesar de me ter desgostado, não a contestei, precisamente por achar que, de todos os locais em que o poderia fazer, aquele era o menos indicado. E também por já então pensar que, em geral, os factos têm sempre um peso superior ao dos comentários.