13.7.06

Hakim Bey: Boicotai a Cultura Chui


«(...) Propomos uma exegese hermenêutica esotérica da palavra de ordem surrealista «Mort aux vaches!». Cremos que ela se refere não às mortes de chuis individuais («vacas», no calão desse período) – mera fantasia esquerdista de vingança – mesquinha reacção sadista – mas antes à morte da image do flic, do controlo íntimo e das suas miríades de reflexos no Lugar Sem Lugar dos media – o «quarto cinzento», como lhe chama Burroughs. A auto-censura, o temor dos seus próprios desejos, a «consciência» como voz interiorizada da autoridade-consenso. Assassinar estas «forças de segurança» equivaleria deveras à libertação de dilúvios de energia libidinal, mas não ao violento amok previsto na teoria da Lei e da Ordem. A «ultrapassagem» nitzscheana fornece princípios de organização ao espírito livre (bem como à sociedade anarquista, pelo menos em teoria). Na personalidade do estado policiário, a energia libidinal é retida e depois canalizada para a auto-repressão; qualquer ameaça ao Controlo resulta em espasmos de violência. Na personalidade de livre espírito, a energia flui sem peias, e por conseguinte de forma turbulenta mas gentil – o seu caos encontra o seu atractor estranho, permitindo o surgimento de novas ordens espontâneas.

Neste sentido, portanto, apelamos a um boicote à imagem do Chui e a uma moratória sobre a sua produção em arte. Neste sentido...

MORT AUX VACHES!»


in Zona Autónoma Temporária: Lisboa, trad. Jorge P. Pires, Frenesi, 2000

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